O luto pós-perda gestacional: uma fase difícil para o casal, em especial para a mulher.

As perdas gestacionais são causa frequente de idas de casais em busca de médico geneticista. A procura do porquê que um casal perde é um questionamento frequente em muitos consultórios médicos. Entretanto, muitos médicos se esquecem da questão do luto pós perda. Entende-se como luto o sentimento de tristeza profunda pela morte de alguém.

Esse alguém pode ser um ente querido: pai, uma mãe, ou um filho. O amor por um filho inicia-se frequentemente quando a mãe descobre a gravidez, começando aí a maternidade. Entretanto em muitos casos ocorre uma interrupção desse vinculo mãe e filho, com a perda gestacional espontânea.

A perda gestacional espontânea pode ocorrer em qualquer fase da gestação, é chamado de aborto espontâneo se a criança tinha menos de 500 gramas ou 20 semanas, e natimorto se após esse período. Como qualquer perda de um ente querido, o termino precoce da gestação faz com que a mãe passe por um sentimento de tristeza que funciona igual ao luto.

Luto esse muito esquecido pelos especialistas, ao entrar na maternidade com sangramento anormal (princípio de aborto), estas mulheres são segregadas das demais (aquelas que estão esperando pelo parto). Durante todo o “acolhimento” muitas já relataram sentimento de desdém e desprezo por parte da equipe multiprofissional.

Esse “tratar” que os profissionais da saúde realizam com a mulher com perda gestacional deveria ser revisto, pois influencia diretamente no luto que a mulher vai passar pelos próximos meses. Como qualquer luto, a mulher também passa pelas cinco fases de Kluber-Ross: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Quando estas mulheres chegam na consulta com médico geneticista, já escutaram de tudo, de vários tipos de profissionais e até mesmos leigos sobre o porquê que o casal tem a perda gestacional. Muitas chegam até mesmo na fase de depressão até conseguir passar para a fase da aceitação. Vale relembrar que é papel da equipe multiprofissional auxiliar a mulher.

Nos grupos de apoio existentes, seja presencial ou em meio virtual, estas mulheres tentam acolhimento e conforto. Durante minhas vivencias com perdas gestacionais, seja durante a residência médica em genética médica ou após início da vida profissional, tento realizar o aconselhamento genético adequado a casais com perda gestacional, com enfoque maior na mulher. É fundamental para a realização deste procedimento o entendimento do luto pós-perda, pois apenas conseguindo chegar no íntimo da dor podemos em seguidas utilizar de conceitos e lançar mãos de exames que muitas pessoas desconhecem.

Caio Graco Bruzaca

Author Caio Graco Bruzaca

Médico geneticista pela Unicamp e Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica (SBGM). Atuo em genética de casais (perda gestacional recorrente, infertilidade, casais de primos), medicina fetal, oncogenética e doenças raras.

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