Adiar a maternidade é uma realidade cada vez mais comum nos dias atuais. Observa-se esse fenômeno tanto em ambulatórios pediátricos — com um número crescente de crianças filhas de casais mais velhos — quanto em clínicas de reprodução assistida, que recebem, majoritariamente, casais cuja idade materna varia entre 35 e 45 anos.
A estabilização financeira e profissional, como a aquisição da casa própria, empregos estáveis e bons salários, fez com que a maternidade, antes uma prioridade, passasse a ocupar um lugar secundário nos planos familiares.
A inserção da mulher no mercado de trabalho, desde o início do século XX, transformou a dinâmica da formação familiar. A busca pelo parceiro ideal, os anos de especialização profissional, a dupla jornada de trabalho e a mudança no papel social da mulher impactaram diretamente a decisão de engravidar. No entanto, o relógio biológico feminino não acompanhou essas mudanças sociais.
Riscos Obstétricos e Genéticos da Maternidade Tardia
Adiar a maternidade pode trazer implicações importantes, tanto do ponto de vista obstétrico quanto genético. Entre os riscos obstétricos associados à idade materna avançada estão:
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Maior chance de diabetes melito gestacional, caracterizado pelo aumento da glicemia;
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Risco elevado de hipertensão arterial durante a gravidez, o que configura um pré-natal de alto risco e potencializa as chances de complicações maternas e fetais.
No campo da genética, a idade materna está fortemente associada a um fenômeno chamado não-disjunção meiótica, que ocorre durante a maturação dos óvulos. Ao contrário da produção espermática masculina — que é contínua e renovada diariamente —, a mulher já nasce com todos os seus óvulos. Esses óvulos permanecem em pausa até o momento da ovulação, e, durante sua divisão celular final, pode ocorrer uma distribuição desigual dos cromossomos.
O ser humano possui 23 pares de cromossomos — metade herdada da mãe e metade do pai. Na não-disjunção, o óvulo pode conter 24 ou 22 cromossomos, em vez dos 23 normais.
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Quando o óvulo possui 24 cromossomos e é fecundado, pode ocorrer uma trissomia, ou seja, três cópias de um cromossomo. As mais conhecidas são:
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Trissomia do 21 (Síndrome de Down)
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Trissomia do 18 (Síndrome de Edwards)
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Trissomia do 13 (Síndrome de Patau)
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Quando há apenas 22 cromossomos, a fecundação pode gerar monossomias, que, em sua maioria, são incompatíveis com a vida e resultam em perdas gestacionais precoces ou até mesmo inviabilidade da fecundação.
Uma trissomia frequente, embora não associada a síndromes compatíveis com a vida, é a trissomia do 16, considerada a principal causa cromossômica de perdas gestacionais.
Aconselhamento Genético: Um Passo Essencial
Diante de uma decisão de engravidar após os 35 anos, o ideal é buscar acompanhamento com um médico geneticista. O aconselhamento genético tem como objetivo esclarecer dúvidas relacionadas à maternidade tardia, avaliar os riscos envolvidos e oferecer suporte clínico-científico ao casal.
Nosso maior desejo é contribuir para uma gestação saudável e, assim, ajudar os casais a realizarem o sonho da maternidade e paternidade com segurança e informação.
Texto escrito pelo Dr. Caio Bruzaca, corrigido e revisado com o auxílio de ferramenta de inteligência artificial.