O luto pós-perda gestacional: uma fase difícil para o casal, em especial para a mulher.

As perdas gestacionais são uma causa frequente da busca de casais por consultas com médicos geneticistas. A procura por explicações sobre os motivos dessas perdas é uma questão recorrente em diversos consultórios. No entanto, muitos profissionais acabam negligenciando um aspecto fundamental: o luto após a perda gestacional.

Entende-se por luto o sentimento de profunda tristeza causado pela morte de alguém querido. Esse alguém pode ser um pai, uma mãe ou, especialmente no contexto aqui tratado, um filho. O amor por um filho, muitas vezes, começa a se formar desde o momento em que a gestação é descoberta — é aí que a maternidade tem início.

Contudo, em muitos casos, esse vínculo entre mãe e filho é interrompido precocemente por uma perda gestacional espontânea.

Essa perda pode ocorrer em qualquer fase da gestação. É considerada um aborto espontâneo quando ocorre antes das 20 semanas de gestação ou quando o feto pesa menos de 500 gramas. Após esse período, a perda é classificada como natimorto. Assim como ocorre com a morte de qualquer ente querido, o término precoce de uma gestação gera na mãe um processo de luto intenso e doloroso.

Infelizmente, esse luto costuma ser ignorado por muitos profissionais. Quando chegam à maternidade com sinais de aborto, como sangramentos anormais, essas mulheres são frequentemente separadas das gestantes em trabalho de parto, o que intensifica o sentimento de exclusão. Muitas relatam ter sido tratadas com desdém ou indiferença por parte da equipe multiprofissional durante o “acolhimento”.

Essa abordagem por parte dos profissionais de saúde precisa ser repensada, pois influencia diretamente o modo como essa mulher enfrentará o luto nos meses seguintes. Como em qualquer processo de perda, ela também pode passar pelas cinco fases do luto descritas por Elisabeth Kübler-Ross: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Ao chegarem ao consultório do médico geneticista, muitas dessas mulheres já escutaram todo tipo de explicação — de diversos profissionais e até de pessoas leigas — sobre as possíveis causas das perdas gestacionais. Não é incomum que estejam atravessando a fase da depressão, ainda buscando forças para alcançar a aceitação.

É papel da equipe multiprofissional auxiliar essa mulher de forma acolhedora, ética e empática.

Nos grupos de apoio, presenciais ou virtuais, essas mulheres buscam acolhimento e conforto. Durante minha experiência com perdas gestacionais — seja no período da residência médica em Genética Médica ou já na prática profissional — procuro realizar um aconselhamento genético completo e sensível, com atenção especial à mulher.

Para que esse processo seja verdadeiramente eficaz, é essencial compreender o luto pós-perda. Somente acessando a dor mais íntima é possível, então, introduzir conceitos e propor exames genéticos que muitas vezes são desconhecidos por boa parte das pessoas.

Texto escrito pelo Dr. Caio Bruzaca, corrigido e revisado por ferramenta de inteligência artificial.

Caio Graco Bruzaca

Author Caio Graco Bruzaca

Médico geneticista pela Unicamp e Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica (SBGM). Atuo em genética de casais (perda gestacional recorrente, infertilidade, casais de primos), medicina fetal, oncogenética e doenças raras.

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